quarta-feira, dezembro 03, 2003


distante (some days are better than others)

na varanda de um flat em Ubatuba...


Descendo num carro em primeira e segunda marcha entre curvas estreitas e tempo inconstante enfim voltei a sentir o gosto do mar nos meus lábios. Conheci Ubatuba no ultimo final de semana e lá existem montanhas verdes que cercam todos os lugares... as ruas ainda estão tranquilas de gente e a enxurrada só vem através das enormes ondas que chutam meu rosto. Para um turista sentado numa cadeira de praia é dificil acreditar num sol que divide espaço com blocos de neblina no pico das serras. A crença passa a existir quando descobri marcas vermelhas no meu corpo. Eu era um baiano em tons de rosa e vermelho-sangue em pleno litoral paulista, e as marcas mais vermelhas nas pernas eram sinais que mosquitos danados adoraram meu sangue... viver tem dessas coisas.

Em sonhos construídos na praia paulista, vi sorrisos soltos no meio do nada. Não tive ninguém pra me contar uma explicação, ou me extorquir dinheiro e toscamente interpretar meus sonhos num passe de mágica. Preferi então pensar na felicidade dos meus amigos queridos, nos dias que ainda quero viver, no meu chiclete de menta que só agora - longe de casa - lembrei onde deixei. Já acordado, quis relembrar os ultimos dias correndo nos quatro cantos de Salvador, de como a gasolina do meu carro acabou em plena avenida e eu perdi o avião pra São Paulo. Lembrei até dos 25 doláres (docemente convertidos em Reais) que desembolsei pra entrar no vôo seguinte... estar em paz é dar risada por qualquer coisa, mesmo quando se está morrendo de medo e tenta disfarçar lendo qualquer porcaria publicitária no avião.

De longe e em forma de prece, espero que todos estejam bem e acumulando muitas histórias pra contar. Com a alma solta escrevo daqui sem pressa, talvez porque escrever está dentro de mim, numa prisão mental que o carcereiro sem querer perdeu a chave. Talvez porque usar as palavras que aprendi seja a saída que a minha louca realidade insiste em usar pra se manter viva, mesmo longe de casa.