segunda-feira, maio 09, 2005

you might win some but you just lost one

Ouviamos fitas de rock enquanto a tarde caia de leve e eu nem sabia o nome da banda. Os verões mais quentes desfilavam atraves do nosso suor e o outono aparecia enquanto ninguem via frutas vermelhas colorindo o chão.
De resto mesmo, so a minha época da inocência em rascunhos .txt, a ignorancia de outrora acompanhada de doces variados a dez centavos cada. Desafio ali era comprar chiclete dois sabores em um, colecionar albuns de bichos que jamais vi e correr o mais rápido possivel, o mais longe possivel, até ter medo e voltar pra casa com o coração disparado aos 7 anos.

Suspiro com aquele sorriso ao ter lapsos de memoria dos passeios de bicicleta e da gritaria. Eu era o menor e o ultimo na fila de primos a pedalar vendo arvores dos mais variados tipos. Daquilo tudo, o que ainda vive a nao ser ruidos que ouço enquanto tento dormir? São fragmentos de um tempo que os outros encaixotaram enquanto eu embalei para a viagem.

Há anos atrás, não queriamos ser ricos, só queriamos somar mais pontos no jogo do ABC mesmo sabendo que todo mundo ia responder "Damasco" no espaço "Fruta" se caisse na letra D. As mentiras naquela epoca, no maximo, me faziam trapacear nas brincadeiras da rua ou pra ganhar um carro de plástico. Eu não mentia pra ferir ninguem, era diversão somente. Eu nao sabia mentir.

Conto e reconto inumeras aulas perdidas olhando pra paisagem, os rabiscos e cartas jamais reveladas sobre a namoradinha que nunca seria namoradinha. As notas sempre altas, a matéria Portugues que me tirava do sério... - como se assoletra Pernambuco mesmo? As dúvidas eram frequentes, cruéis do tipo por que a semana passava tao devagar. Hoje subo e desco escadas me perguntando o motivo de gente sem coração continuar respirando.

A ansiedade era para esperar os almoços de domingo, gritar era comum ao ver o dedo vermelho de sangue. Arrependimento era ter chutado a pedra cinza sem querer, nao ter tentando andar mais vezes na chuva e quem sabe aprender a jogar futebol direito. Aquele Tiago sabia que conquista mesmo era ter o bolso cheio de gudes verdinhas e a mente limpa quando se é um bom menino.

Eu era livre sabendo disso, conhecia limites inconscientes e desconhecia a solidão. Era lindo porque não sabia o peso de ser belo, nem quanto custava o preço do jeans moderno. Naturalmente solto, andava sem rumo e sem medo por andar assim, tinha uma mãe vigiando os passos e com a incrivel capacidade de distribuir milhões de beijos em poucos segundos. E eu acreditei que seria assim o resto da vida, um caderno gordo como meu vizinho e cheio de historias bacanas.

Mas muitas tardes se foram, e agora estou na página 352 da minha vida. Como vou explicar que tudo mudou, a barba já incomoda, a altura anunciando a idade e que de quebra deixei a minha consciencia dançar num ritmo estranho. Comece a escrever moleque e não pare... certas resoluções demoram de chegar, mas nada que uma boa tentativa não transfome em realidade páginas que já deveriam ter sido escritas.