terça-feira, janeiro 18, 2005

na praia ou em qualquer lugar



- Voce simplesmente não pode dar meia volta e ir embora.

E então foi assim, pelo o que ele se lembra esse foi o grito que mais ecoou na sua mente naquele dia numa praia qualquer. O sol se arriscava a se por, mas na verdade ele queria ficar mais para ver os abraços e beijos com gosto de maresia. O mar, quieto em opiniões estava começando a encher... de ideias quem sabe, de soluções. Providenciou ondas maiores que cobriam cada vez mais a areia, ele acreditava que pés molhados sempre correm para onde se sentem bem.

- Voce me trouxe até aqui, como voce tira essa a ideia de deixar tudo pra trás? Voce escolheu o caminho, voce me deixou livre pra andar nele... Que estoria é essa de pular fora. Nao faz sentido, nao pra voce, nao para mim, não pra nós.

Ouvir isso enquanto está de costas nao tem o menor sentido, pensava ele. Perde-se metade da sensação de ser querido, e ainda sem enxergar o rosto, nao se nota a intensidade das palavras. Mas enquanto ele caminhava de volta, catando umas conchas roxas que sabe-se la pra qual finalidade, riscando a areia mole com um graveto e nenhum sorriso no rosto, a barra da calça ja estava molhada o suficiente como um prenuncio da noite, a chuva viria depois de meses sem agua, ou a torrente sairia dos seus olhos?

De tantos passos que deu, a vontade subita era de olhar para trás, ver a distancia de forma clara e saber quantos pés ainda restaram proximos da espuma branca das ondas. Mentira. ele queria ver além disso, mas a cada menção de virar o corpo, algo o segurava, nao era ele. Porque ele queria voltar, ele queria aquilo. Mas preso em tantos argumentos, desconheceu aquele que um dia nunca precisou deles para silenciar quem quisesse. Optou ser outro, com uma agonia que o deixava intolerante até para suas pequenas divagações. Porque que a gente é assim?

E na separação trazida pelos passos incontaveis, e enxergando um horizonte sem ninguem, as lembranças remetiam para um ponto de calça branca franzida na perna, de braços abertos, sorriso aberto e que no fundo nao entendia os tantos nós de uma vida que estava proxima. Nao havia sentido, nao havia grandes problemas. E desse outro lado da distancia, a mesma talvez argumentasse sobre a loucura, sobre como tudo tinha ficado assim se a brincadeira nao evoluisse. Por entre o vento e cercava de doze conchas em forma de vontade, ela descansava, ora olhando para os lados, ora vendo qual era a distancia para o outro lado da baía. Acompanhada por lapsos de pensamento, refletia sobre como era possivel a realidade não planejada, era realmente possivel encontrar verdade em tanto desejo?

Dos gritos de meia hora atrás, o silêncio irrompeu-se ao ponto de em dado instante, até as ondas lamberem silenciosamente a areia, como um sinal, como uma calma. Então acreditou-se que a saudade as vezes se aproximava do silêncio, por mais sem sentido que parecesse ser. E que olhando do alto, a extensão das pegadas que os separavam tinham um tamanho grande demais para ser medido, tao grande que impressionava qualquer um que olhasse do alto. Mas contrariando tudo isso, quem sentiu o gosto da maresia naquele fim de tarde ja conhecia algumas verdades. A principal delas era que nenhuma distancia pode ser tão grande, tão esmagadora se a gente deixa uma parte de nós mesmos em almas especiais. Como um sinal de confiança, como um desejo sincero.