sexta-feira, outubro 17, 2003



"... e se pudéssemos ter a velocidade para ver tudo, assistiríamos tudo"

p.s: a moça citada não está contida na foto



São 3:07 de uma tarde que não sei qual a cor do céu. Estou preso numa sala de paredes brancas e computadores pretos, fazendo um trabalho que provavelmente irá tomar o resto da minha tarde de sexta-feira. Manter-me sentado e envolvido em conceber nomes, marcas e ideias para um produto ficticio é o meu dever. Porém, enquanto escolho algumas fotos para utilizar no trabalho, escuto soluços... nao sei de onde vem essa percepção mas, mesmo antes de ouvi-lo, sabia que alguma coisa não estava bem ao meu redor.

Quis tirar uma foto, hesitei e mantive a máquina guardada até tudo passar... a foto seria de uma desconhecida diante do computador aos prantos. Fiquei atônito e não tirei os olhos de uma moça gorda com cabelos pretos por alguns longos instantes. Na verdade ela não estava nem ligando se tinha um ou mil pessoas observando a cena, nada iria mudar o que ela sentia naquele momento.

Fingi que continuava meu trabalho, nao consegui. Me vi rodeado de suposições tendo o Corel Draw como companheiro: e se fosse um parente distante que deu noticias por e-mail, quem sabe poderia ser uma recordação de alguem que se foi... ou seria uma surpresa inesperada? Eu nao fui lá, nao vi o que ela lia, tampouco perguntei se tinha algum problema acontecendo com ela. Imóvel estava, imóvel fiquei.

Tinha quase certeza que não havia felicidade naquele choro. Os seus olhos vermelhos eram visiveis e as lágrimas caindo aos borbotões sem nenhum lenço para ajudá-la, só continuavam a espalhar marcas molhadas na blusa, nas mãos e no teclado. Esta foi a ultima cena que observei e aposto que havia marcas muito maiores do que as visiveis, e só ela saberia dizer quais doíam dentro do seu peito.

Silêncio. Num intervalo de tempo impreciso ela sumiu e pensei que fosse uma alucinação qualquer auxiliada pelo Photoshop, então fiz log off na minha máquina e ocupei o mesmo lugar que moça sentara. Havia marcas úmidas no teclado e eu definitivamente não estava delirando.