domingo, abril 30, 2006

Bahia,

Chego pra te dizer que nunca fui: cada partida é uma permanência maior ao teu lado. Estás comigo em toda parte: na dobra do manto de um santo, na voz de um sino, na matéria rica e nobre de um velho muro. Se um momento esqueço-te, faze-te lembrar: um céu mais límpido, um sorriso de criança, um barco que desliza, o sol de um fim de tarde. E tudo, de repente, passa a ter a tua marca de sonho.
Os teus limites estão sempre além de mim. À minha frente, como a imagem perfeita, a tua face.
Ao menor movimento dos meus pés, em cada chão que piso é teu contato que sinto. Nas minhas andanças, é um pouco do teu sangue que vai comigo e regressa, de logo, ao teu corpo.
Chegando, minha cidade, reprimo-me ante o novo e o eterno de tua beleza de teus mares, de tua humanidade, do canto da pedra de tuas velhas ruas e de tuas velhas casas.
Após a visão fatigada do mundo, repouso no teu azul.

Odorico Tavares in Os Caminhos de Casa.