quinta-feira, novembro 30, 2006

"eu era um sujeito então perseguido pela saudade. sempre fora, e não sabia como me desligar da saudade e viver tranqüilamente.
ainda não aprendi. e desconfio que não aprenderei nunca. pelo menos já sei algo valioso: é impossível me desligar da saudade porque é impossível me desligar da memória. É impossível se desligar daquilo que se amou.
tudo sempre estará sempre junto conosco. sempre teremos tanto o desejo de refazer o bom da vida como o de esquecer e destruir a lembrança do mau. apagar as maldades que cometemos, desfazer a recordação das pessoas que nos prejudicaram, remover as tristezas e as épocas de infelicidade.
é totalmente humano, então, ser um nostálgico, e a única solução é aprender a conviver com a saudade. talvez, para a nossa sorte, a saudade possa transformar-se, de algo depressivo e triste, numa pequena chispa para o novo, para entregar-nos a outro amor, a outra cidade, a outro tempo, que talvez seja melhor ou pior, não importa, mas que será diferente. e isso é o que todos procuramos todo dia: não desperdiçar em solidão a nossa vida, encontrar alguém, nos entregar um pouco, evitar a rotina, desfrutar de nossa fatia de festa.
eu ainda estava assim. tirando todas essas conclusões. a loucura me rondava e eu fugia dela. tinha sido demais em muito pouco tempo para uma pessoa só..."

pedro juan gutierrez - trilogia suja de havana

quinta-feira, novembro 23, 2006

entre oito anos (onde todas as veias se encontram)

Pensei naquele momento que não poderia dar certo. A placa do fusca não tinha minha letra inicial, a parede pintada de amarelo, diarios e mais diarios guardados - assinados por ela - sem o meu nome em nenhuma folha. Carreguei isso por alguns dias que passaram numa facilidade, como achar copo d´agua cheio na época de chuva. Uma sensação de não pertencer, de ódio do passado dela, passado por ela, sem mim.

Oito anos se foram e pensei naquele momento que poderia ser feliz. Numa quarta-feira de cinzas, quando todas as cores se esconderam. Eu, sumido sem querer, me achei no banco branco, na esquina mais escura do bairro partido de corações ansiosos. Sem ansiolítico por opção, deitei na faixa amarela estatelada no meio da rua, mordi o ultimo pedaço do doce e fiquei.

O dia amanheceu, olho fechadinho, eu ainda nem acordei.