terça-feira, setembro 30, 2003



Em que km você está?


O suor começa a se sentir bem no meu corpo. Ao alcance dos meus olhos um menu em inglês, aperto os botões e na soma misteriosa dos números vejo escrito em letras garrafais vermelhas: "25 minutes to go". Meus pés se movem mais rápido do que um simples andar, sim, eu estou correndo mas a mente anda tão distante dali, que estaria melhor se pudesse transportar meu corpo para uma estrada dentro de mim.
Campos do Jordão
Minha estrada, feita pra mim e por mim, onde meus sentidos se encarregariam de avisar, num tom azulado e discreto, quantos minutos faltariam para meu destino. Não é dia, aparentemente não estou perdido, mas quero distancia sem explicações, por mais de 1/4 de hora, da negra noite que me envolve. Há muito tempo deixei de fugir e mesmo enxergando um longo espelho a pouco mais de um metro, não tenho mais aquela sensação de desespero ao enxergar minha inteira face... alguns medos se cansam de nos assustar quando os domamos. Será que alguém vive tempo suficiente para domar todos eles?

Entre as gotas de suor, divago sobre o que me desarma. São outras coisas, meus temores deixaram de ser ordinários, sabiamente fogem do clichês. Creio que o vazio da alma me assusta (e sempre ira me assustar). O suor faz minha pele brilhar enquanto me pergunto sobre até onde se estendem meus dominios. Até onde posso chegar se não conheço meu destino ao certo? Sei que continuar a correr implica num coração batendo tão rápido, as vezes sinto que isso ocorre tão sem motivo que chega a incomodar. Devaneios...

Tolamente decidi que preciso de um motivo. Odeio os motivos mas preciso de um somente para tentar entender o que me acontece internamente. Tudo bem, diminui o passo, a minha estrada acabou e há uma placa informando uma possível ampliação. Sinto um cheiro de asfalto fresco, eu ainda não cheguei onde queria, ou seja, dentro da minha própria essência. Same old history, a gente só se encontra quando menos espera.

domingo, setembro 28, 2003



“Coincidência é um milagre onde Deus prefere ficar anônimo�




Isso sim que é cidade pequena. Para exemplificar a quantidade de vezes que podemos encontrar com um mesmo alguém dentro de Soteropolis, um ex-professor da UCSal chama Salvador de “rocinha de interior�. Mesmo não sendo baiano, ele tem alguma noção do que é essa cidade... pois aqui é muito difícil você não ser um conhecido de fulaninho...

Para quem anda em lugares completamente opostos, isso pode ser multiplicado por dois. Hoje, enquanto esperava pela sagrada hora do almoço, ouvi um amigo comentar sobre esse absurdo chamado internet e como esse “monstro� aproxima pessoas. Quando você menos espera, encontra amigos em comum, gente sumida que volta do nada, gente que tem blog, icq, e-mail espalhado pelos Favoritos dos seus amigos. Nos últimos tempos a frase que mais tenho dito é: “você conhece tal pessoa?�... adivinhe o que mais tenho ouvido?

O exemplo clássico foi num encontro para celebrar o aniversario do nosso querido amigo. Mais parecia um encontro virtual num ambiente físico. Consegui conhecer pessoas que antes só estavam do lado de lá do monitor, gente que escreve muito bem, gente que tem historias parecidas com a minha. A sensação de estar em casa é impagável, sem duvida a tarde foi das descobertas, e foram muito boas...

Os tempos são outros e mais convidativos para (re)conhecer gente. Após essa pequena sessão de coincidências, já estou me perguntando quem será a próxima pessoa a ser descoberta.

Links relacionados com o dia

Ernesto
Carol
Rafaela


sexta-feira, setembro 26, 2003



“a woman needs a man like a fish needs a bicycle�




Dia de sol, praia, amigos ao redor... após um dia cheio de situações agradáveis, estou no meu carro voltando para a casa, no cd player: U2 ... uma musica prende minha atenção. Conhecida como Tryin’ to throw your arms around the world essa é uma das melhores do cd Achtung Baby (1991). Eu adoro musicas boas e que me fazem pensar, por mais loucas que sejam, por mais sem sentido que aparentem ser. O clima baladinha romântica, a presença dos versos longos contando sobre situações, pessoas e como elas influem na vida de alguém.

Ao ouvir cada verso sinto um clima de carência que envolve a musica. Desconfiado com relação a minha percepção e a falta de exercício do meu inglês, abri por curiosidade um arquivo .txt com a letra da tal musica. Dentre outras frases que comprovaram o que eu estava pensando, resolvi postar sobre o assunto depois de ler: “a woman needs a man like a fish needs a bicycle�. O mais coincidente disso era que já tinha lido essa frase num fotolog de uma menina homossexual. Não entrando na discussão sobre opção sexual, eu fiquei me questionando a respeito da veracidade da frase nos relacionamentos. Pelo contexto da musica, ela parece muito mais uma espécie de reconhecimento sobre quem precisa mais de quem. Abomino qualquer forma de sexismo, por isso sempre achei que os homens são mais carentes e menos resistentes quando se trata de corações. A dor se torna maior quando você tem que esconde-la. Por muito tempo os homens foram assim e com a mudança dos tempos, a progressiva abertura sobre o assunto só comprova isso.

A sorte de escutar uma musica com frases nem sempre com uma sequência lógica é unica. Para formular interpretações e devaneios sem estar preocupado com o resultado final é só querer... tem quase quinze minutos que comecei a digitar esse post, já ouvi essa musica umas 3 vezes mas continuo achando que mesmo ocupando 3/4 do planeta, o oceano ficaria cheio demais com tanta bicicleta.


quinta-feira, setembro 25, 2003



Amigos são irmãos que pudemos escolher




Uma das teses mirabolantes de Tiago, cultivada ao longo dos anos, fala sobre aniversários: pragueje a inteira arvore genealógica do indivíduo, arranhe seu carro, queime seus pertences, enfim, faça o diabo em cima do aniversariante mas nunca, nunca esqueça de uma data como essa. Todo mundo quer ser lembrado na data de nascimento, até mesmo os que mentem a idade e odeiam aparecer... inclua nesse time os que dizem "não" para qualquer comemoraçãozinha no playground da tia solteirona. Enfim, quem leva realmente numa boa quando você esquece já morreu. Não se espante se o esquecimento for motivo para assassinado dos responsáveis. Com certeza, não lembrar de quem você gosta talvez seja pior do que esquecer o próprio aniversario, pois pelo menos quando isso acontece só você fica triste.

Nessa data, muitos se sentem donos do dia. Não é para menos pois as lembranças da mesma data, em anos anteriores, nos garante um certo ar de propriedade sobre o dia. Eu tento recordar a minha primeira lembrança, os meus primeiros amigos... tudo aquilo que eu quero retorno mas que jamais voltara. O tempo de saudade só vai embora quando o futuro acena... ele nem sempre eh acena de forma positiva, mas quem se importa? Eu creio no poder das nossas próprias mudanças, sempre.

Em 25 de Setembro de 1978 nasciam milhões de donos desse dia. Inclusive alguém de um lugar chamado Pais do Verão, uma pessoa com uma vivacidade e conhecimento tão grande, munido da sensaçao perene de que "tudo vai dar certo" e com um carisma incomum (mesmo na era de gente insuportável). Devo admitir que desde um tempo, a tranquilidade dos meus dias em grande parte se deve a essa criatura. A sua evoluçao constante faz dele alguém para discutir, aprender e corrigir meus erros. Ha poucos exemplares humanos assim no mundo, por isso, obrigado Chico pelo prazer da sua companhia e por poder confiar em você.

terça-feira, setembro 23, 2003

De Galho Em Galho

A alma humana é uma chama,
um pássaro de fogo, que salta,
de galho em galho, gritando:
Não posso permanecer imóvel,
tenho que arder!


Nikos Kazantzakis



quando a alma pede algo, uma novidade diante dos olhos, a mente trabalha como nunca... o desejo vira realidade, e agora?

volta-se ao eterno ciclo do mundo moderno: sempre em busca de algo para usar e esquecer...


segunda-feira, setembro 22, 2003

Love is a game. Easy to start. Hard to finish.



Hoje me deparei com uma espécie de aquário dos relacionamentos. Constatei que parar para assistir filmes durante a tarde pode te render momentos interessantes. “Vida de Solteiro� tomou de assalto quase duas horas da minha tarde, e sem duvida foram bons momentos “perdidos�. Sabe aquela estorinha americana de jovens no inicio dos anos 90 vivendo e sofrendo juntos? Pois é, um filminho desses é ótimo para ficar calmo numa tarde de segunda...

Vista pelos olhos do talentoso Cameron Crowe, o roteiro desbanca na era grunge de Seattle onde se encontra desde figurinhas com guitarras na mão e com o visual cabeludo de Cliff Poncier (Matt Dillon), a gente sonhadora como Linda Powell (Kyra Sedgwick) que sofre seguidas decepções amorosas até encontrar Steve Dunne (Campbell Scott), um racional funcionário do departamento de transito. Ele sente falta de alguém desde o fim do seu namoro com a vizinha (Bridget Fonda) mas vive evitando as complicações de uma vida a dois.

Como se poderia prever, Steve e Linda se conhecem numa festa de garagem ao som do bom e velho Soundgarden. A partir daí, o longo script de encontros e desencontros acontece até o grande final feliz chegar. Talvez por isso esse filme fosse mais um daqueles just for fun enquanto um grosso livro azul de Adm. de Marketing me espreitava na mesa da sala. Talvez..

O que me chamou atenção na segunda metade do filme foi a idéia da protagonista de reinventar o relacionamento para ele continuar dando certo. Linda sugere conhecer Steve de novo, não só pelo prazer da novidade, mas pelo prazer de refazer um relacionamento e tentar ser feliz assim. Quando algo não vai do jeito que a gente quer, por que abandonar? Por que deixar de lado pessoas legais quando o erro as vezes está no modo de cada um agir?

Saindo de Seattle e voltando para o nosso mundo notamos que temos tanta duvida, tanta neura, passamos por tantas questões amorosas, que tolamente nomeamos as melhores saídas justamente como sendo aquelas mais fáceis... Por que?

domingo, setembro 21, 2003

"Let's sleep for a little, let's die for a little, but not talk for a little" - Uri Pellegrini

sábado, setembro 20, 2003



Na poça da rua
O vira-lata
Lambe a Lua

Millôr Fernandes



A nossa estranha mania de fazer distancias parecerem curtas em um determinado momento é impressionante. Num lapso de pensamento, por causa de uma musica, uma foto em nossas mãos. O poder que coisas simples podem exercer na nossa mente nos leva a uma espécie de dimensão paralela: a dimensão das coisas próximas mas infelizmente não táteis.

Essa distancia, próxima em pensamento, não precisa ser entre dois pontos físicos... há o costume de estar distantes de idéias, de objetivos. Os medí­ocres tentam romper barreiras para estar perto de pessoas interessantes, os pecadores arrependidos sempre querem proximidade da consciência limpa; falidos e metidos se endividam a cada dia pensando em andar no compasso dos ricos numa mesma rua.

Na atual conjuntura, as minhas idéias de distancia foram ampliadas, eu faço parte dos que acreditam na serenidade de pessoas nem sempre ao nosso redor mas que estão próximas de alguma maneira.

Up-Close Thinkings



"Somos prisioneiros de nós mesmos. Nunca se esqueça disso, e de que não há fuga possível." - Lao Tse

Talvez essa seja a razão para um mundo tão cheio de gente querendo compartilhar ideias e se expressar. Presos na nossa cela particular, cutucamos para o lado para dizer um "Oi" para quem está proximo, para definir nosso espaço e quem sabe imaginar como seria conhecer outros.

Estive por tanto tempo preso a endereços de blogs, muitas vezes de amigos e de alguns desconhecidos fantasticos, que decidi hoje pela tarde a começar um. Comparando com uma situaçao real, abrir um endereço por aqui é como andar na Av. Paulista no horario do rush. Primeiro (alem da confusao inicial) voce consegue ver todo tipo de pessoa escrevendo simultanemente e sao tantos espalhados que ter curiosidade demais, ser seduzido por lindos templates implica em varias horas pulsos alem franquia...

Ingressar nessa comunidade é interessante para quem consegue vencer o medo de ter algo escrito disponivel para qualquer pessoa. Ter um blog te incita a conhecer mais sobre internet, a tentar escrever melhor, interagir com pessoas e ter um pouquinho de orgulho disso. Afinal de contas, nao havendo fuga possivel, vamos rabiscar as paredes...

sexta-feira, setembro 19, 2003

This is a place called home.