domingo, março 28, 2004


eu realmente acredito na vida eterna

segunda-feira, março 22, 2004


na presença da saudade eu vou abrindo um blog aqui pra encarar a ausência.

quarta-feira, março 17, 2004


you get confused, but you know it



Ontem me peguei pensando sobre o champagne da formatura, o canudo de publicitário na mão. É evidente que pensei também em trabalho, profissão, carteira de trabalho reluzindo e um sonho algum dia realizado, enfim, ultrapassei a metade do curso e a imaginação exige mais pertinência. Pro bem da verdade, eram três horas da tarde e o pensamento era apenas mais um sonho vespertino. No calor da tarde o suor banhava a minha pele enquanto milhões suavam no trabalho por dinheiro, por satisfação do dever cumprido ou por paixão. Acordei me sentindo um trouxa, já pronto e enrolado no lençol.

A vida cercada de facilidades é terrível. Desde sempre, não tive preocupações angustiantes com coisas que outros morrem de medo ou de tristeza. A minha tese do "tudo se resolve" é bordão da dependência que é sempre atentida. Não sou rico, mas muitas das minhas vontades foram realizadas durante os últimos vinte anos. Comodidade? Sim. Essa realidade talvez explique as minhas parcas iniciativas para procurar um estágio ou um emprego... acostumado a receber tudo de mão beijada, quando não há osculo a mão se torna inútil.

O descaso pelo curso teórico e chato dos primeiros semestres retirou temporariamente meu folêgo numa profissão que vou adorar seguir. As doses de monotonia entre uma aula e outra me privaram da distinção do que era importante ou não naqueles tempos. No quinto semestre, já acordado, sinto falta de uma explicação aqui, de uma teoria acolá. Por isso, de um jeito ou de outro passei a acreditar mais nos saudosistas, eles entendem a dor da oportunidade perdida.

Na faculdade, os irmãos de profissão estão desanimados. Fora dela, mercado decadente e relatos de formados convertidos a vendendores de cerveja, não de idéias. Não quero mudar de rumo, não desse jeito, seria minha traição inaceitável a algo que preciso arriscar por direito. Segundo dizem, ter consciência de que algo está errado é o ponto de partida para mudanças, se assim for, então já me sinto pronto para dar alguns passos discretos... a direção, essa eu decido no meio do caminho.


domingo, março 14, 2004



segunda-feira, março 08, 2004


primeiras impressões

O dicionário explica mas todos já desconfiávamos que "a atuação de elementos ou situações exteriores sobre os sentidos" é a famosa "impressão" que se tem sobre qualquer coisa orbitando ao seu redor. Como observadores, o ser humano desenvolve certos métodos - às vezes sem lógica - para definir quais são suas impressões diante de algo revelado pelo seus olhos. No que abrange outras pessoas, o grande perigo de fazer isso decorre do erro, da má colocação de idéias e da terrível formação de preconceitos. Andar na rua é tão comum como ser taxado pelos outros transeuntes, penoso é não conseguir provar o contrario para quem te observa todo dia, mas em silêncio conserva no formol impressões de um angulo externo.

A coletânea de experiência que se adquire no decorrer dos tempos ajuda muito a definir o tipo das nossas pretensas definições acerca de alguém. O principio de ser inerente ao homem se importar, de alguma maneira, com o que dizem a seu respeito para mim faz total sentido. Ainda creio que até os descolados de plantão possuem um dedo melado de cola no assunto, enquanto os preocupados torcem o nariz para fofocas e constróem uma leva de opiniões equivocadas com base no nada. Portanto, nessa guerra dos olhares que travamos em todos os turnos do dia, somos invasores e invadidos em mundos que ousamos criar mas que não obstante inexistem. Nos sete dias da semana analisamos e somos analisados por horas e segundos, consequentemente quem acha o outro interessante, quem odeia seu jeito de se vestir, aquele que te convidaria pra um cinema numa próxima oportunidade ou aquela que tiraria sua roupa sem pestanejar, todos tem algo em comum: superexpõem algo em você para formatar um ponto de vista nem sempre uniforme.

Não fazer parte da eterna observação que nos reclassifica a cada momento em mentes alheias, é desconhecer um acrescimo ofertado pela vida. É ver impressões confirmadas ou cairem por terra a cada frase e sentimento revelado, é achar a ponte desvendar segredos pessoais, alcançar novos amigos ou desafetos. Essa é a graça, constatar como pareceres são primários demais se aplicados a personalidades densas e multiplas por natureza. Os entraves sempre existirão, a falta estimulo para desvendar o que existe por trás do que alimentamos se faz presente diante de pessoas mornas de espirito, transformando-as em grandes barreiras humanas. Quem vê o mundo com um olhar indiferente não vive, respira. Então, quão nitido pode ser seu olhar?

domingo, março 07, 2004


antes das seis



Hora grave

Quem chora agora em algum lugar do mundo,
sem razão chora no mundo,
chora por mim.
Quem ri agora em algum lugar da noite,
sem razão se ri na noite,
ri-se de mim.
Quem anda agora em algum lugar do mundo,
sem razão anda no mundo,
vem para mim.
Quem morre agora em algum lugar do mundo,
sem razão morre no mundo,
olha para mim.

Rainer Maria Rilke


quarta-feira, março 03, 2004


o tempero da vida

Conversas na internet e mais divagações acontecem. Nos posts alheios é normal relembrar momentos passados em comum, dúvidas que tive e incertezas que todo humano vai carregar. Dentre a modesta lista de amigos online no meu computador, gente se sentido chato demais, cansado demais do mundo... a falta de alguem especial causa isso. E vejo que longos intervalos de tempo absorvendo essa conclusão torna um inferno em certas ocasiões do dia. Comentando num angulo masculino, essa falta tem ido contra qualquer especie de pesquisa até então realizada... somos minoria onde mulher motorista onibus deixou de aparecer na tv como sendo novidade. O que eu realmente queria dizer tem a ver com o fato das proporcões desiguais gerarem uma variedade maior de mulheres solteiras.

Ampliando o assunto, certa vez pensei sobre como é dificil lidar com variedade demais nos nossos dias. Para gente indecisa ou sem poder de escolha isso não conta como vantagem alguma, ao contrario disso, gera conflitos e quem sabe escolhas erradas. Eu creio que até para os centrados em algum caminho isso tambem incomoda... ver novas vertentes é deveras tentador e serve como prova para reavaliar o que se tem como objetivo. Em grupos de ambos os sexos, ficar preso à ninguem e ao mesmo tempo segurar mãos diferentes a cada nova sessão de cinema é facil, é clichê aliado a uma variedade enganosa que é guiada somente pelo desejo. Sempre ter conhecidos à perder de vista mas ninguem realmente pronto pra pausar o dia e te ouvir é outro exemplo da farsa que muitos podem cair a qualquer tempo.

Na mente de um outro punhado de pessoas, existe certos diferenciais que superam qualquer estratagema imposto pela beleza. Quem sabe a combinação de gostos seja algo perceptivel mas que poucos dêem valor, no meu caso o momento pos-adolescencia foi crucial para começar dar crédito a isso. Foi quando a sintonia fina passou a ser essencial, a fuga do obvio e a busca do diferencial em cada pessoa se tornou dever fora de casa... o que faz alguem ser especial para mim? o diferencial! Aquela música saudosa que um amigo te relembra a letra num momento inesperado... a capacidade dos namorados de rir somente com uma troca de olhares sobre qualquer coisa... alguns retratos do dia-a-dia que fogem o esquema de relacionamentos vazios e te impoem vinculos pela combinação de ideias e sentimentos. Essa busca, tem sido a maior dentre qualquer outra para os humanos. Quando voce está acordado num dia feio de segunda-feira, mas sente de forma única a presença de amigos ou os braços de um amor, se permite acreditar que encontrou o tal diferencial, então até aquele cachorro chato e pulguento no outro lado da rua tem um olhar doce. Sim, o tempero da vida não é tangivel.

segunda-feira, março 01, 2004


boarding pass to rio



O perigo de passar duas vezes pelo mesmo lugar é a confusão que uma mente desastrada como a minha pode causar. Nos últimos feriados, não apenas sete dias me separaram de pequenos "déjà vu" nos aeroportos do Rio e Salvador em madrugadas ímpares. Lutando contra medos primários ainda no espaço aéreo e revendo um olhar quente já com os pés no chão, conheci um Rio de Janeiro outrora contado nas histórias de meu pai e que enfim posso recontar aos filhos que um dia terei. Pude confirmar mais uma vez o poder que uma viagem pode provocar, raras vezes imaginei vivenciar tanto num curto intervalo, talvez por isso ousarei mais descobertas nesse intervalo de tempo conhecido como 2004.

A semana do carnaval diferente, a cidade cercada de morros e turistas, a abstração da rotina e de problemas me garantiram além de um sossego cercado de sorissos, a doce proximidade dos beijos da minha namorada. Compartilhar sua amizade nos passeios no calçadão, seu gosto musical irretocavel e a sua cumplicidade em momentos cômicos onde estrangeiros trocavam palavras e reinventavam outras em prol da comunicação com brasileiros. Detalhes da viagem que coleciono como figurinhas de um album renovado a cada instante pela minha mente... sou o dono que o folheia feliz, mesmo ainda tendo espaços por preencher.

Voando de volta pra casa, sem paisagens para observar das alturas, forçei o pensamento a cada instante para não chorar... o avião balançava e eu realmente precisava esquecer aquilo. Experimentei doses de tranquilidade ao saber que o peso das minhas escolhas não tem sido desleal nem tampouco injusto. Muitos dos meus esforços e vontades trazem resultados que ultrapassam o simples prazer, pois a vida tem me dado a chance de reaproveitar experiencias passadas e adicionar outras mais. Eu, minha mente e meu coração estamos realmente próximos.