terça-feira, janeiro 25, 2005

"porque sempre há o momento em que voce pode decidir entre resistir ou se entregar"



Existem muitas verdades nesse mundo por vezes quadrado. Uma delas reza que tudo o que pode ser previsivel perde o fator surpresa. Seja a beleza do instante singular, o espanto que chuta o que é normal pra qualquer lugar, ou o brilho nos olhos. Nao adianta, antever dias e sensações causa uma certa conformidade em nossas almas. Mas contrariando conceitos, eu no escuro, e ainda mirando as poltronas vazias da primeira fileira, já sabia que seriam duas horas surpreendentes. E carregando dentro de mim a confiança que dias de espera se fazem necessarios, eu esperei até ver diante dos meus olhos as primeiras cenas do filme mais esperado e ainda sim o mais surpreendente: Closer - Perto Demais.

É complicado reconhecer, mas as matizes da minha personalidade nao estavam no retrovisor do carro ou no espelho do quarto que eu olhando fixamente com os cabelos molhados ainda insisto em querer me encontrar. Na segunda-feira antes da lua cheia minha alma se perdeu em 104 minutos de pelicula , nao é facil encarar o seu proprio reflexo de maneira tão intima. Nos suspiros, nas discussões e em lagrimas que qualquer um enxerga, eu me sinto perto demais. Um Tiago que carrega dentro de si doses milimetricas de cada um dos personagens, até se encontrar em um durante os creditos finais.

A vida de quatro personagens é exposta, mas poderia ser a minha vida, a sua, a dele, a nossa, tudo com qualidade digital mas com a medida crua de realidade. Uma franqueza filmada que destroí por não ocultar nada, mesmo quando esse seja o caminho mais fácil. São cenas que te fazem voar de volta para lembranças que remetem a intensidade, o desejo, o beijo certo. Aos dias que voce correu o mais rapido que pode em busca de algo intangivel, às noites sem ar, as decepções que tiram sua mente por épocas do lugar. Voce é recortado em mil pedaços com dialogos que carregam um peso inominavel, expoem uma ausencia inaceitavel e te forçam a engolir o suspiro. É incomodo, é maravilhoso, é para poucos mesmo que seja o filme de todos que acreditam em amor, em luta, em conquista. É o retrato de quem ainda persiste mesmo vendo decepções ao alcance da mão ou dentro do coração. É o meu filme. É o espelho que eu me enxergo mesmo de olhos fechados.

quinta-feira, janeiro 20, 2005


ele

"aquele menino trazia na testa uma marca inconfundível: pertencia àquela espécie de gente que mergulha nas coisas às vezes sem saber por que, não sei se na esperança de decifrá-las ou se apenas pelo prazer de mergulhar. Essas são as escolhidas - as que vão ao fundo, ainda que fiquem por lá."

Caio Fernando Abreu

terça-feira, janeiro 18, 2005

na praia ou em qualquer lugar



- Voce simplesmente não pode dar meia volta e ir embora.

E então foi assim, pelo o que ele se lembra esse foi o grito que mais ecoou na sua mente naquele dia numa praia qualquer. O sol se arriscava a se por, mas na verdade ele queria ficar mais para ver os abraços e beijos com gosto de maresia. O mar, quieto em opiniões estava começando a encher... de ideias quem sabe, de soluções. Providenciou ondas maiores que cobriam cada vez mais a areia, ele acreditava que pés molhados sempre correm para onde se sentem bem.

- Voce me trouxe até aqui, como voce tira essa a ideia de deixar tudo pra trás? Voce escolheu o caminho, voce me deixou livre pra andar nele... Que estoria é essa de pular fora. Nao faz sentido, nao pra voce, nao para mim, não pra nós.

Ouvir isso enquanto está de costas nao tem o menor sentido, pensava ele. Perde-se metade da sensação de ser querido, e ainda sem enxergar o rosto, nao se nota a intensidade das palavras. Mas enquanto ele caminhava de volta, catando umas conchas roxas que sabe-se la pra qual finalidade, riscando a areia mole com um graveto e nenhum sorriso no rosto, a barra da calça ja estava molhada o suficiente como um prenuncio da noite, a chuva viria depois de meses sem agua, ou a torrente sairia dos seus olhos?

De tantos passos que deu, a vontade subita era de olhar para trás, ver a distancia de forma clara e saber quantos pés ainda restaram proximos da espuma branca das ondas. Mentira. ele queria ver além disso, mas a cada menção de virar o corpo, algo o segurava, nao era ele. Porque ele queria voltar, ele queria aquilo. Mas preso em tantos argumentos, desconheceu aquele que um dia nunca precisou deles para silenciar quem quisesse. Optou ser outro, com uma agonia que o deixava intolerante até para suas pequenas divagações. Porque que a gente é assim?

E na separação trazida pelos passos incontaveis, e enxergando um horizonte sem ninguem, as lembranças remetiam para um ponto de calça branca franzida na perna, de braços abertos, sorriso aberto e que no fundo nao entendia os tantos nós de uma vida que estava proxima. Nao havia sentido, nao havia grandes problemas. E desse outro lado da distancia, a mesma talvez argumentasse sobre a loucura, sobre como tudo tinha ficado assim se a brincadeira nao evoluisse. Por entre o vento e cercava de doze conchas em forma de vontade, ela descansava, ora olhando para os lados, ora vendo qual era a distancia para o outro lado da baía. Acompanhada por lapsos de pensamento, refletia sobre como era possivel a realidade não planejada, era realmente possivel encontrar verdade em tanto desejo?

Dos gritos de meia hora atrás, o silêncio irrompeu-se ao ponto de em dado instante, até as ondas lamberem silenciosamente a areia, como um sinal, como uma calma. Então acreditou-se que a saudade as vezes se aproximava do silêncio, por mais sem sentido que parecesse ser. E que olhando do alto, a extensão das pegadas que os separavam tinham um tamanho grande demais para ser medido, tao grande que impressionava qualquer um que olhasse do alto. Mas contrariando tudo isso, quem sentiu o gosto da maresia naquele fim de tarde ja conhecia algumas verdades. A principal delas era que nenhuma distancia pode ser tão grande, tão esmagadora se a gente deixa uma parte de nós mesmos em almas especiais. Como um sinal de confiança, como um desejo sincero.


domingo, janeiro 16, 2005




na água o silêncio é mais gostoso.

segunda-feira, janeiro 10, 2005

"acorda, tiago."



É como se alguem batesse nas minhas costas como um sinal, como se o mundo tivesse que ser relido em partituras, como se a agua no copo precisasse ser esvaziada, como se alguem derrubasse meu sorvete preferido, como fosse a minha vez de precisar de uma boa sacudida. Se voce falou doze verdades e ouviu treze motivos para suspirar, seus batimentos cardiacos falam por seus lábios.

Mas quem vai me entender quando eu disser que so queria ficar sorrindo?