quarta-feira, outubro 29, 2003


reabrindo portas dentro da minha cabeça

Ontem à noite cheguei na porta do meu apartamento assoviando uma música...



Passei meia hora, impaciente, tentando descobrir a letra e finalmente achei isso escondido na minha mente:

Saudosismo
[Caetano Veloso]

Eu, você, nós dois
Já temos um passado meu amor
Um violão guardado, aquela flor
E outras mumunhas mais

Eu, você, João
Girando na vitrola sem parar
E o mundo dissonante que nós dois
Tentamos inventar

Tentamos inventar
Tentamos inventar
Tentamos
A felicidade
A felicidade
A felicidade
A felicidade
Eu, você, depois
Quarta-feira de cinzas no país
E as notas dissonantes se integraram
Ao som dos imbecis
Sim, você, nós dois
Já temos um passado meu amor
A bossa, a fossa, a nossa grande dor
Como dois quadradões
Lobo lobo bobo
Lobo lobo bobo
Lobo lobo bobo
Lobo lobo bobo
Eu, você, João
Girando na vitrola sem parar
E eu fico comovido de lembrar
O tempo e o som
Ah como era bom
Mas chega de saudade a realidade

É que aprendemos com João
Pra sempre a ser desafinados
Ser desafinados
Ser desafinados
Ser
Chega de saudade
Chega de saudade


segunda-feira, outubro 27, 2003


"Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança..."




Agora posso sentir o cheiro da minha farda azul, ouvir o sino que tocava avisando o recreio, o barulho das crianças correndo e o gosto de pão delí­cia com coca-cola em garrafa. Num lapso de tempo, perdido na minha mente, me vi sendo aquele menino danado segurando uma lancheira com biscoitos doces, cheio de dentes moles na boca e duas "janelinhas" já abertas. Ouço os gritos da professora dizendo que o recreio acabou e o silêncio das longas aulas de caligrafia, que eu me perdia olhando uma paisagem de casas interioranas através da porta da sala.

Após o choro dos primeiros dias de aula, lembrei da minha calça jeans com marcas descoloridas, em ambos os joelhos, por causa das minhas quedas... da farda suja de terra e do rosto suado de tanta correria. Dentro da minha mente, estive na minha primeira escola ao sentir entre meus dedos a forma dessas sementes, encontradas no chão ontem de tarde. Eram pedaços vermelhos da minha infância soltos na terra... e a saudade foi tanta que quis recolher uma a uma e voltar a correr ao redor de um grande pé de flamboyant na entrada da minha escola.

Confesso que queria aquela inocência de volta, onde eu nem mesmo sabia o nome daquela árvore, nem que viver requer mais do que força para arrancar alguns dentes de leite e jogá-los no telhado.

(viver requer coragem)

sábado, outubro 25, 2003


Cada folha caída é uma verdade amarela.


Existem coisas nessa vida, que nem sempre aparecem na nossa mente. Mas num belo dia, você se depara com um formulário... e tem vontade de respondê-lo.

Tão escondidas estão certos questionamentos, que julgamos inexistentes até que alguem nos pergunte...

Então, descubra-se dentro do pátio

sexta-feira, outubro 24, 2003


Vi os dias dessa semana passarem como alguém, que sentado num ponto, observa dois céleres ônibus de uma mesma linha passarem sem parar. O que fica para trás é somente poeira servindo de consolo para as cansadas criaturas em pé por tanto tempo. Os gestos indignados e a gritaria nao é nada diante do barulho da rua.

A sequência das coisas, a realidade cotidiana que aparece crua e diversa diante da minha retina, me bate, sacode meu corpo, retira o ar das minhas entranhas mas me deixa vivo para contar. Eu tive uma semana ativa, cheia de folhas A4 impressas, deadlines, discussões e momentos choráveis, que se tornaram engraçados de lembrar na calmaria da sexta de noite.

Acho que somente os que ousam colocar os pés na rua têm sua sanidade questionada, mas ganham a sensação de dever cumprido após o sol ir ali tirar um cochilo.


Parei de gritar, resolvi sair correndo do ponto e achei outra linha para me levar em casa...

quinta-feira, outubro 23, 2003


d a s   p e r g u n t a s   q u e   n ã o   q u e r e m   c a l a r:


¿ na vida, pelo o quê vale a pena lutar ?


ouse uma resposta logo abaixo

terça-feira, outubro 21, 2003



foto de um cristal


As Palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Eugênio de Andrade

segunda-feira, outubro 20, 2003



bem melhor do que novela mexicana

O que parecia ser um encontro de dois amigos no shopping barra acabou virando um post bem inusitado. Numa conversa com mais de 15 minutos contados ao telefone, decidimos (eu e Zé Felipe) que no Domingo pela tarde estarí­amos conhecendo o Budismo. O ponto de encontro na frente daquele fast-food com um "M" bem grande foi somente o inicio de uma série de momentos bem interessantes... rodei sozinho por quase todas as lojas e quando nos encontramos finalmente no tal lugar, Éramos 3 (Carol, uma amiga de Zé Felipe, foi achada sozinha e perdida no meio das mesas).

Adicionando mais uma na serie das coincidências dessa vidinha, eu vagamente conhecia Carol por meio de um cartaz na faculdade. A fotógrafa Caroline Borba é uma menina legal, tem jeito de menininha mesmo e aqueles olhos puxados quando o flash toca a sua retina junto com um sorriso aberto, só acrescem seu carisma. Foi amizade de primeira... mesmo não acertando nenhuma das suas predileções musicais, acabamos comprando cds e rindo muito no meio da tarde dominical... essa tarde que logo, logo viraria noite.

Visualize três pessoas com quatro rodas e uma chave no bolso de cada um. Logo de cara você nota que isso não iria funcionar. Tem que haver aquele papo no carro, levando vento na cara (mesmo que seja ar-condionado), vendo o mar escuro cheio de espumas brancas e se perdendo até achar um barzinho aconchegante. Por isso, quando sentei naquela mesa colorida com musica mexicana ao fundo, nem tive tempo para pensar nas reviravoltas do dia, tampouco no meu trabalho inconcluso... há prazeres que jamais acontecem da mesma maneira: reunião de (recém) amigos é uma delas.

Para garantir o tempero que faltava na mesa, eis que aparece Mariana Siqueira a.k.a Nanoca. O que vou falar dessa moça? Sei que sua pele não estava nas CNTP e o rosto vermelho era fator denunciante. Ela conhece metade das pessoas que transitam na minha faculdade, incluindo meus colegas de sala: Ivan (jogador irritantemente assíduo de Gene Rally nos computadores da faculdade) e Pi (escritora de comentários mais "do nada") são alguns exemplos. Fora ponto de referencia, Mariana Siqueira se mostrou tão gente boa como os demais. Foi comunhão tão perfeita, que os três fizeram um texto non-sense em duas folhas de guardanapo!

E Zé Felipe? Esse meu novo/velho amigo é tão complexo... aguardem um novo post ou quem sabe o seu blog nos meus links pelos próximos dias.

O Budismo? Ahh... houve tanta paz nesse dia que nem fiz questão.

domingo, outubro 19, 2003



... essa sensação de frio constante e o nariz úmido só aponta para uma saída: acusar a tarde no laboratório de informática da UCSal como causadora principal de uma gripe que me incomodou hoje no teatro.

Foto Reproduzida do Blog do Teatro Vila Velha


Fui ver Head Hunters (Caçadores de Cabeças) no Teatro Vila Velha, e foi ótimo! A convite de uma das integrantes do grupo (a excelente Bárbara Donadel) vi uma espécie de beleza confusa e abstrata naquela sala com cadeiras comuns e platéia envolvendo o palco. A cenografia, a competência dos componentes e a força do movimento que cada um desenvolve é muito fascinante.

sexta-feira, outubro 17, 2003



"... e se pudéssemos ter a velocidade para ver tudo, assistiríamos tudo"

p.s: a moça citada não está contida na foto



São 3:07 de uma tarde que não sei qual a cor do céu. Estou preso numa sala de paredes brancas e computadores pretos, fazendo um trabalho que provavelmente irá tomar o resto da minha tarde de sexta-feira. Manter-me sentado e envolvido em conceber nomes, marcas e ideias para um produto ficticio é o meu dever. Porém, enquanto escolho algumas fotos para utilizar no trabalho, escuto soluços... nao sei de onde vem essa percepção mas, mesmo antes de ouvi-lo, sabia que alguma coisa não estava bem ao meu redor.

Quis tirar uma foto, hesitei e mantive a máquina guardada até tudo passar... a foto seria de uma desconhecida diante do computador aos prantos. Fiquei atônito e não tirei os olhos de uma moça gorda com cabelos pretos por alguns longos instantes. Na verdade ela não estava nem ligando se tinha um ou mil pessoas observando a cena, nada iria mudar o que ela sentia naquele momento.

Fingi que continuava meu trabalho, nao consegui. Me vi rodeado de suposições tendo o Corel Draw como companheiro: e se fosse um parente distante que deu noticias por e-mail, quem sabe poderia ser uma recordação de alguem que se foi... ou seria uma surpresa inesperada? Eu nao fui lá, nao vi o que ela lia, tampouco perguntei se tinha algum problema acontecendo com ela. Imóvel estava, imóvel fiquei.

Tinha quase certeza que não havia felicidade naquele choro. Os seus olhos vermelhos eram visiveis e as lágrimas caindo aos borbotões sem nenhum lenço para ajudá-la, só continuavam a espalhar marcas molhadas na blusa, nas mãos e no teclado. Esta foi a ultima cena que observei e aposto que havia marcas muito maiores do que as visiveis, e só ela saberia dizer quais doíam dentro do seu peito.

Silêncio. Num intervalo de tempo impreciso ela sumiu e pensei que fosse uma alucinação qualquer auxiliada pelo Photoshop, então fiz log off na minha máquina e ocupei o mesmo lugar que moça sentara. Havia marcas úmidas no teclado e eu definitivamente não estava delirando.

quarta-feira, outubro 15, 2003

Com a lente de contato embaçada e os olhos quase se fechando, olha o que aparece na minha caixa postal:



Esses sites de cartões virtuais são curiosamente espertos. Incrível me parece como esses títulos clichês ainda não me encheram a paciência e sempre sou convencido a clicar em cima deles. Abrindo esse e-mail (encontrei uma variedades de temas) já começo notar que os sentimentos foram divididos em sensações de um catalogo e as datas especiais não passam de dias com presentes embalados. Mais do que um spam para os loucos que algum dia enviaram um cartão bobo, essa mensagem conseguiu me acordar para qualquer coisa, exceto revisitar o tal site.

Fiquei aqui pensando que com pedras assumindo status de coração, fica dificil não pensar que o mundo tá ficando cada vez mais chato, e entupido de insensíveis­ se desculpando através da internet (vide a sessão "desculpas", contida no e-mail)


... e minha noite termina com uma película sobre lugares e corações. A ficção do final feliz me convence mais do que cartões feitos em flash.

terça-feira, outubro 14, 2003



Negocio da China

"Há três coisas que jamais voltam: a flecha lançada, a palavra dita e a oportunidade perdida" - Provérbio chinês

sexta-feira, outubro 10, 2003



e - m a i l / londres



"'Vídeo-games não influenciam crianças.
Quer dizer, se o Pac-Man tivesse
influenciando a nossa geração,
estaríamos todos correndo em salas escuras,
mastigando pílulas mágicas e escutando
músicas eletrônicas repetitivas." - Kristian Wilson, Diretor Nintendo Inc. 1989


Poucos anos depois surgiriam as festas rave, a
música eletrônica e o ecstasy... '



quinta-feira, outubro 09, 2003



Modus Vivendi



Situação de turbulência nas amizades acontece quando pessoas especiais desaparecem, provocando o ciúme nos corações alheios. Esses cidadãos precisam contar com amigos fortes o bastante para não odiar o motivo do sumiço, ou engolir uma pílula a mais de compreensão para lidar com os descontentes que transitam pelo caminho. (eu sou um desses)

Esta provado para mim que criando vínculos de amizade, qualquer "novidade" ameaça mesmo que seja de mentirinha. As "novidades" podem ser amigáveis e então o susto passara logo. E quando isso nao acontece, ai sim, tem confusão...

Vem cá, não dizem por aí que o ciúme é o tempero dos relacionamentos?
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(e isso porque ainda nem digitei sobre namoro.)

segunda-feira, outubro 06, 2003



lembra o tempo
que você sentia
e sentir
era a forma mais sábia
de saber
e você nem sabia?

Alice Ruiz


Tenho para mim que situações inesperadas tendem a ser marcantes. Acredito que há um certo tipo de inconsciência planejada presente em cada indiví­duo. Sem querer, provocamos momentos onde os sorrisos aparecem, alguns corações se partem e beijos únicos acontecem.

Não há nenhuma espécie de roteiro e, longe de alguma pretensão, entramos nessa usando somente os sentidos como guia. Sao esses instantes que, escondidos por muito tempo, reaparecem numa noite qualquer e eu os tomo para dentro de mim, como única medida contra a escuridão.



domingo, outubro 05, 2003



McDonald's num domingo de noite.




Algum ser iluminado pode me explicar o motivo dessa afirmação?

sexta-feira, outubro 03, 2003



Crescer não tem nada a ver com idade





Enfim! Depois de algumas dezenas de comedias românticas sem sal nem açucar e filmes desinteressantes, parece que Hugh Grant conseguiu me convencer como ator (meu deus, que fato importante para a vida dele!). Na verdade, eu to com muita duvida se a atuação dele foi digna mesmo, ou se o filme é tão bom que leva a pessoas não tão experimentadas na sétima arte a pensar dessa maneira.

O autor do livro hononimo que inspira "Um Grande Garoto", Nick Hornby, detem o poder de alguns escritores. Ele ambienta temas de uma maneira por vezes única e que consegue afetar de algum modo eu, você, nossos pais, avos... o jeito simples de passar uma mensagem é algo que realmente funciona! Eu conheci esse sujeito no meio de uma aula na faculdade. Infelizmente ele não era o tema da aula, mas seu nome estava escrito num livro e a feliz leitora seria, algum tempo depois, uma das pessoas mais legais que já conheci. Entendeu a afinidade? Pessoas legais e Nick Hornby.

O tal do Hugh Grant, no filme, é um daqueles sortudos-com-audi-ultimo-modelo que possivelmente viveremos, morreremos, jamais tendo encontrado alguém parecido. Essa raridade esta no fato dele viver renda desde que seu pai compôs uma musica natalina famosa, que paga seu estilo de vida rico e esbanjador. É necessário um garoto de 12 anos invadir a sua casa para a ficha começar a cair. Sua vida é vazia e ele não faz nada importante para um mundo povoado de pos yuppies; a ausência de trabalho lhe deixa sem graça nos encontros com mulheres bem-sucedidas da sua idade. Enfim, uma vida sem compromissos custa dúzias de explicações.

"Nenhum homem é uma ilha". Tudo bem, estamos citando Jon Bon Jovi. Mas até que ela caiu bem no filme, até que cai bem no nosso cotidiano. Definitivamente não há como negar a verdade: precisamos de metas a cada amanhecer, em todos os estágios da nossa vida, e é importante ver nossos objetivos se entrelaçando com os de outras pessoas. Há tempo para estar sozinho, de não querer sentir a respiração de ninguém ao redor... mas nada se compara com o tempo que precisamos de pessoas provocando nosso riso, mesmo que a piada não tenha graça.

"A gente nasce e morre só. É talvez por isso mesmo que se precise tanto de viver acompanhado". Ah! Antes que eu cometa um injustiça, essa citação não tem nada a ver com cantores de musica-chiclete. Agora é Rachel de Queiroz, meus caros.

quarta-feira, outubro 01, 2003


Às vezes se tem nostalgia
de ir embora, não se sabe pra onde.
Talvez para um país onde só tem
amigos
e bandos de anjos tagarelas
comendo amoras.
Onde uma flor é sempre uma flor...
E se a gente a tem;
A tem para sempre


Walter JK