quarta-feira, agosto 24, 2005

"i'd like to think the best of me
is still hiding
up my sleeve" (mayer)

sexta-feira, agosto 19, 2005


pra mim parece um tapete
Originally uploaded by tiagolima.

quarta-feira, agosto 17, 2005

da leveza, do ar puro e dos ultimos dias perfeitos

Éramos avidos compradores, desde espaços de tempo nos dias usuais até longas ruas que achavamos interessantes. Como nao havia leilão, sempre pagavamos a vista montanhas verdes, cadeiras de madeira fosca, por do sol às seis. A divisão de bens viria depois, eramos bons na arte de ceder até mesmo pedaços de areia e mar que compramos na semana passada. Coisa que voce nunca esqueceu foi que o sorriso era gratuito e partia ora de mim, ora de voce.

Os dias chatos tambem constavam no nosso contracheque no final do mês favoritado: julho. A tarefa era reforma-los em horas que lembravam o nosso nascimento, nunca a nossa morte. Posto que éramos imortais nos dias pares e viveriamos dias incontaveis nos dias impares. Esse juramento permanecia incolume em cada linha dos nossos textos enquanto sobriamente os poemas saiam, já as prosas demoradas demais surgiam após quatro calices de vinho tinto e Vinicius na vitrola.

Os anos desfilavam e mesmo assim não lidavamos bem com dinheiro, mas com a força do pensamento. Algumas cedulas eram de alguma serventia na volta para casa quando os pés doiam, nos jantares programados com vinte minutos de atraso e principalmente após o nascimento da pequena dona das nossas vidas.

Os jogos mais bobos nos eram companhia após o primeiro ressonar da nossa filha. Não carregavamos aliança em dedo algum, a prova maior residia na rotina que recaia e o charme de quebra-la. De fato era só olhar para seu pé roseado e nos ver ali. Eu a unha, voce uma pequena carne a me cobrir.

A nossa casa foi pintada após duas semanas, os jornais no chão tinham historias absurdas e mesmo assim eu era o primeiro achar o caderno de música. Naqueles dias, a dois anos atrás, tivemos uma pequeno impasse sobre a cor; optei pelo rosa claro, voce queria um verdinho que ao meu ver não cabia no quarto da pequena. Bom, era a minha vez de ceder e assim foi. Quando a tinta chegou a primeira coisa a fazer foi tingir a sua barriga de três meses de verde. "Para tudo paga-se um preço" disse eu rindo às alturas.

Havia uma leveza jamais incompreendida pelos outros, a vizinhança desconfiava, os amigos docemente nos invejavam. Não havia perfeição entre nós, nem regras estreitas demais. Nossas brigas apareciam em silêncio e morriam não apenas com flores e desculpas, era a cumplicidade quem de fato nos salvava. Somente ela nos revelou que viver é constatar que sendo bom ou mal tudo haverá de ir embora, inclusive nós e o jarro da cozinha feito por mim. Portanto acima de brigas e debaixo dos cobertores, nada nos restava a não ser belos, puros e docemente humanos, como um exercicio que nos imortalizava a cada encostar no travesseiro.

terça-feira, agosto 16, 2005

O que pode ser mais deslumbrante do que perder a noção de tempo?

sábado, agosto 06, 2005

..."eu vou dizer aquelas coisas mas na hora esqueço..."

O oficio de te achar em paredes douradas ainda me desperta certos arrepios. É relembrar o castelo dos destinos cruzados e reter dentro de mim o ar úmido proximo à pele. O costume, a delicadeza, a burrice de achar que quem suspira aqui, jamais vai sentir um outro suspirar acolá me mantem numa orbita repetitiva. Eu com meus velhos modos, voce com a inocencia a te resguardar.
Descubro que o tempo de um cigarro é o que preciso para passar minha vez. Então roda e a ciranda revela essa estranha mania de te prender nas minhas entranhas. E para sempre, devaneio eu, tudo me parece com seu vestido azul, com o chinelo que voce tanto adora. Há pontos de luz, neblina, carro nao mais veloz... a minha mente fica doce, voce não morre, atraves dos meus olhos haverá sempre entrega.
Uso oculos escuros e são oito da noite, me acostumei a não dar detalhes seguintes... não os que voce possa decifrar, nem o que sua pequena estatura possa alcançar. Os azulejos azuis estão sempre a te acompanhar em sonhos, e eles decoram mais uma piscina que vi na semana passada. Quem vai saber porque detalhes que se parecem contigo transitam sobre meus dominios de maneira livre.
Destruo manhãs sem graça para que o sol fique lua, para que estrelas cheguem perto do teto do carro na esquina, e eu quero voce deitada por lá, acordando gente trabalhadora em altas risadas. Depois de te observar só escrevo com tinta azul, mesmo que seus olhos não leiam, porque tenho tambem o habito de falar sem dizer.

Em algum lugar voce suspira pelo que não tem, e eu guardado na minha sala, continuo acreditando que a sua saída sempre vai acabar entrando pela minha porta...

segunda-feira, agosto 01, 2005

o eterno retorno (eu sou aquele que grita pelo passado, eu sou aquele que olha pro futuro)

Quando vi meus pés levemente empoeirados e o frio a me abraçar percebi que a companhia de tudo o que se foi às vezes me era preciosa. A represa e o barulho de litros d'agua atravessando a ponte que liga o trecho mais dificil de dois mundos prestes a se partir. Andei para um lado, ensaiei uma volta ao carro e nao consegui com a facilidade esperada. Querendo mesmo ficar era o meu coração, um querer de que trechos de hora fossem um vinyl sem arranhões, a melhor parte executada proxima do ouvido sob juramento de nunca enjoar. Porque mesmo apos tantos enjoos, certos espaços de tempo que eu alimento dentro de mim procuram referencias para se repetirem em unissono, é o encontro do meu céu com a terra que devo pisar.

A volta pela cidade que deixei há anos não pára, volta essa que me consome e me reanima seja em cada curva ou nos incontaveis passos dados fora do carro. Os farois iluminam em parte buracos na velha estrada, esses nem sempre são maiores dos que levo na minh'alma. Os postes apagados me trazem à tona quando a luz vinha de dentro de nós e era intermitente. Amostras de saudade em semitons, doces reminiscencias que discretos outdoors com velhas propagandas mostram um progresso distante do meu passado.

Ao topo da cidade que me perdeu, pequenas casas nunca sairam do lugar, os velhos guardas passam apitando um som inaudivel e descobrem a solidão em cada esquina, moleques fogem de puxões de orelha e passam rente aos meus pés aos berros, é a felicidade crua em disparada. Às dez da noite tudo já é tarde e quieto. A escuridão por lá é a hora de guardar pequenas doses de segredo dentro de cada um. Por onde vivo, a noite perde-se e me acha nos neons da cidade, nos semaforos que tenho medo, em felicidades embaladas por músicas que nao entendo, por prazeres contidos em copos de vidro.

Piso em falso e dói, sei mesmo assim que não é hora pra lagrimas, nem de adeus. Tudo parece ser tão perto quando a distancia nao é o medo de estar longe, é o medo das coisas que mudam fora do alcance dos olhos, é o susto das minhas mudanças frente a tudo o que se parece ser tão igual. É ver pequenas pedras presas ao chão ficarem no mesmo lugar, enquanto dentro da pequena cidade que dorme, busco sobras de alguem perdido nos contornos de ruas, em passeios com pequenas arvores a crescer, elementos de uma jornada que só eu posso construir. Sorrio porque muitos como eu destroem e constroem a cada dia casas invisiveis, dias surreais.

Na rua das casas abraçadas a conversa na janela prossegue, a fogueria crepita na porta da casa e o sereno molhando carrinhos de mão. Pequenos motivos que despertam a vontade de deitar no colo de alguem ou passear descalço, de não ligar pra hora enquanto telefones, computadores e tristezas voltam a pertencer a um mundo eu só vejo passar na velha tv da vizinha. Sem trocadilhos em outro idioma, sem falar de livros que mudaram nossas vidas, sem mensagens vazias no visor do celular num segundo que seja. Quero falar sobre onde esse trem barulhento vai parar na alta noite. Falar do futuro como algo distante como a serra verde que à noite esconde bichos bonitos, falar do passado às alturas, falar dos outros como se soubessemos o proximo passo de cada estranho a enfrentar o escuro.

A noite nunca morre assim, mesmo que o amanha seja o mais bonito desde a epoca dos nossos pais. Noite essa que embala o membro mais novo da minha familia, que aos quatro anos corre como um louco e fala todas as verdades que me faz rir. Se ele soubesse que tudo o que me é mais raro algum dia seriaa leiloado em nome de uma segunda infancia, que as suas pequenas sandalias ao caber no meu bolso trazem a sensação de uma primeira velhice e o gosto agridoce da responsabilidade. Nos seus olhos pequenos tudo se parece grande demais, pois entao como a gente chegou tão alto se a pequenez é andar na trilha de soluções coloridas?

Deixo tudo como esta, na estante mental tudo assim fica incolume até segunda ordem. Como se fosse o primeiro dia de um agosto qualquer e nossos segredos de doze anos atras virassem alimento pra risadas interminaveis, como se o mundo que pensavamos ser nosso nunca pudesse envelhecer naquela foto do mural.

- Quando vamos fingir que o mundo é nosso de novo? Pra começar eu nao finjo o que nao sou, nunca. Pra terminar, nossas lembranças serão nosso trato rumo a eternidade...